O que ouvimos em pronunciamentos no Plenário da Câmara,
foram discursos, um oba-oba em favor da Presidente eleita e de restrição à
soberana decisão do Congresso Nacional.
Aliás, é muito comum no linguajar do Partido dos
Trabalhadores, porque, toda vez que os Parlamentos se manifestam contra as
posições deles, enchem de desaforos os Parlamentos, dão como sendo desvirtuosos os seus integrantes, não se calam e
não se pejam de atribuírem aos Parlamentares todos os defeitos do mundo.
O Orçamento do Município, que estamos examinando
agora, é um dos melhores exemplos que se tem de participação popular
consequente. É confessado, na Exposição de Motivos, que antecede a proposta,
que foram ouvidas as várias instâncias do Orçamento Participativo, que
entregaram sugestões, acolhidas pelo Governo do Município e encaminhadas à
decisão desta Casa.
Nós pretendíamos nos aprofundar na análise a respeito
destas propostas. Se não o fazemos, é porque se me afigura absolutamente
necessário, até para que os Anais da Casa possam registrar, que a opinião aqui
reforçada e renovada no pronunciamento que me antecedeu na tribuna não é o
pronunciamento dominante nesta Casa, onde somos solidários com a decisão do
Congresso Nacional, que, na sua soberania, entendeu de sustar um decreto que,
desde o começo, havia sido combatido, porque é uma farsa, é uma tentativa de
dominar o Congresso Nacional, asfixiando-o e fazendo com que fique dócil na mão
do Executivo. Ora, como bem disse o Deputado Mendonça Filho, reeditar no Brasil
a Venezuela não é o que o povo votou nas urnas ao reeleger a Presidente Dilma.
Reeditarem, aqui no Brasil, práticas de outro país
onde o Executivo asfixiou por inteiro o Poder Legislativo não é o que o povo
decidiu nas urnas.
Tanto isso é verdade, que a maioria dos votos
favoráveis à sustação desse famigerado decreto partiu de apoiadores da
reeleição da Presidente Dilma Rousseff, que, a esta altura, deve estar
arrependida de ter seguido maus aconselhamentos e proposto essa aberração ao
Congresso Nacional.
Então, nesta Casa, que é um orgulho para a cidadania
em Porto Alegre, onde a oposição sempre tem voz e sempre é respeitada, não
podem ser feitas afirmações que não sejam fortemente contraditadas, porque elas
desmerecem a nossa tradição. Nós não estamos aqui para diminuir a decisão do
Congresso, muito antes pelo contrário, nós estamos aqui aplaudindo a sua independência
e a forma altaneira com que a grande maioria dos congressistas, especialmente
aqueles que, no Maranhão, em Alagoas, no Rio Grande do Norte, na Bahia, em
Minas Gerais, apoiaram a reeleição da Presidente Dilma Rousseff. Essa maioria,
diante da tentativa de reduzir, de retirar a prerrogativa do Congresso
Brasileiro, reagiu, e reagiu positivamente. Então, nesta Casa não tem que ter, repúdio
ao Congresso, e sim aplauso, porque, em verdade, é de surpreender que, mesmo
dentro dessa empolgação da vitória nas urnas, tivesse tido independência o
Congresso Brasileiro de perceber a monstruosidade que era colocada em votação e
com a qual se iniciava a “venezualização” do processo
político nacional! Não vão conseguir. Pelo menos, nasce uma experiência. Ainda
existem homens e mulheres neste País que, independente de posições
político-partidárias, são suficientemente capazes de tomar posições altaneiras,
dignificando-se, e sobretudo adequadas à realidade brasileira. Enganam-se
aqueles que acham que, em função da reeleição da Presidenta Dilma Roussef, o
resto do País será tratorado. Não, a Presidente, alertada inclusive, pelas
urnas, saberá ter tranquilidade para não permitir que isso aconteça. Vejam bem,
senhores, não é a maioria dos brasileiros que disse que a Presidente Dilma
deveria continuar como Presidente, foram menos de 40% dos votantes, que,
obviamente, não disseram que o Aécio é que tinha que ser Presidente, mas isso é
significativo e tem que ser levado em consideração.
É por isso que, nesta hora, jogar pedras e lama sobre
o Congresso Brasileiro é uma atitude antidemocrática com a qual não podemos
concordar e sobre a qual temos o dever de usar esta tribuna e oferecer o mais
amplo protesto.
Porque é a partir de posições inadequadas como essa
que se prospera o pior dos fascismos no mundo: aquele que dá aos executivos a
plenitude das condições - independente da soberania e da vontade popular, pois
os parlamentos são a representação do todo e não de parte da posição
democrática dos países – de conseguirem, através de medidas como essa que já
conceituei como sendo negativa, que seja amordaçada a representação legítima da
população.
Foi bem o Congresso Brasileiro, pode ter outros
erros, certamente os terá, mas não se diga que nesta hora, mesmo sobre o
amplexo da decisão eleitoral, soube tomar uma posição de acordo com os melhores
princípios que preservam a democracia representativa.
Nós que queremos intercambiar a democracia
participativa com a democracia representativa não o faremos amordaçando os
parlamentos, não o faremos negando legitimidade aos parlamentos, não o faremos
pugnando pela derrocada das instituições representativas da maior democracia,
porque um povo sem parlamento é um povo escravo, é um povo órfão, um povo sem
norte, sem perspectiva, sem fundamento e sem possibilidade de alcançar os
objetivos legítimos do bem-estar das comunidades amplamente representadas, com
todos os defeitos que possa ter o Congresso.
O Congresso tem todas as opiniões ali representadas.
E esse Congresso se manifestou no dia de ontem, e hoje foi aqui repudiado pelo
Partido dos Trabalhadores. Nós que somos a ampla minoria desta Casa queremos,
em alto e bom tom, repudiar essa tentativa de menosprezar a decisão soberana
dos Parlamentares brasileiros.
E, de forma muito positiva, ao concluir, quero
acentuar, de forma absolutamente transparente, que isso, que é decisão soberana
do Congresso Nacional, é uma esperança nova que o brasileiro tem. Porque, acima
do interesse político-partidário, que saibam os Parlamentares brasileiros, os
de hoje e os que assumirão amanhã, preservar a democracia.
E não há democracia com Parlamento amordaçado, com o
Parlamento com os seus poderes diminuídos, especialmente sem as prerrogativas
constitucionalmente estabelecidas e que se pretendia verem revogadas.