terça-feira, 4 de novembro de 2014

A URNA E SEUS VOTOS


Venho à tribuna de certa forma constrangido por vir num dia em que estivemos discutindo de tudo um pouco e, na hora de votar as matérias, não termos quórum para votar.
Este constrangimento é em nome do poder; eu, pessoalmente, não sinto dificuldade nenhuma, porque a Casa é testemunha de que eu sou um dos primeiros a chegar e um dos últimos a sair.
Não tenho que ditar regras de comportamento para quem quer que seja, mas, lamentavelmente, eu previ que estávamos discutindo muito e que, no fim, não haveria quórum para votarmos os projetos, como efetivamente ocorreu.
Agradeço ao Ver. Tarciso por me ter propiciado a oportunidade de utilizar este período de Grande Expediente para uma manifestação mais profunda.
Entre as várias discussões que a Casa acompanhou, houve manifestações de repúdio, trazidas por escrito, a um grupo de pessoas que estariam pregando a volta da ditadura militar ou coisa do gênero.
O Ver. Janta, numa manifestação extremamente consequente, colocou muito bem que eventuais falhas da democracia brasileira, eventuais inverdades eleitorais que as urnas possam ter carregado, não transformam a democracia em algo desprezível, muito pelo contrário.
E eu afirmo que a democracia ainda continua o melhor sistema que os cidadãos livres possam imaginar para a sua vida.
É logico que há uma grande frustração neste país, porque, de certa maneira, se olharmos o que as urnas expressaram, a Presidente Dilma é reconduzida à Presidência da República por menos de 40% do eleitorado brasileiro.
E isso decorre porque mais de 20% se abstiveram de votar, também houve mais de 5% de votos brancos e nulos, o que fizeram com que, no mínimo, um entre quatro brasileiros lavasse as mãos no processo e, com isso, transferisse para o restante da população a responsabilidade de decidir os destinos do país.
Eu, assim como o Ver. Janta e vários outros Vereadores desta Casa, lutamos até o derradeiro momento para ver terminado esse período ingrato para este país de estar na mão desses desmandos que aqui ocorrem.
Mas muitos que tinham que nos acompanhar, que normalmente nos insuflam para a tomada de posições, foram viajar para outro lugar e nos deixaram discutindo sozinhos.
Não é possível que, numa decisão de 2º turno, em que duas alternativas bem opostas são colocadas, exista essa quantidade enorme de abstenções e esse número expressivo de votos nulos e brancos. Por isso, eu quero dizer que eu vi a manifestação do PT por escrito dizendo que aqui se queria restabelecer a ditadura militar, mas, depois, ao ler os jornais, vi que não é nada disso.
Há pessoas que foram às ruas, no seu direito legítimo, querendo auditoria nas urnas eletrônicas porque há informações dos mais diversos recantos do país alegando a possibilidade de que tenha havido fraude eleitoral.
Essa é outra situação.
Eu, honestamente, como joguei o jogo jogado, participei da eleição, aceitei que ela fosse decidida através do voto colocado na urna eletrônica, não é agora que eu perdi que eu vou sair a reclamar da urna.
Se a urna valeu para eleger o Governador de São Paulo, com a astronômica votação que o elegeu, se valeu para eleger o Governador Sartori, com a estrondosa votação que recebeu aqui no Estado, ela tem que valer sempre.
É do jogo, é assim, é essa a urna.
Se ela tem defeitos, se ela permite manipulação tem que demonstrar tecnicamente e vamos impugnar por antecipação, e no próximo pleito, quando tiver pleito municipal, tem que votar com papelzinho, não tem mais a urna.
É esta a colocação que faço.
De resto, acho que não podemos mais continuar nesta história de querer enganar das mais diferentes formas o eleitorado brasileiro.
Os últimos dias que antecederam a eleição foram um cipoal interminável de anúncio de novas obras, de anúncios de novos procedimentos, procedimentos aguardados há mais de 10, 15 anos, agora são anunciados: “Vai iniciar a segunda ponte do Guaíba”.
Aqui, hoje, a Zero Hora - que o PT não vai mais ter coragem de dizer que é porta voz do antipetismo, porque jogou muito claramente do outro lado nesta eleição, jogou, e fizeram bem, era posição de vários dos seus protagonistas -, fala: “Infraestrutura/ERS-118: As pedras no caminho da duplicação”.
Faz 20 anos e metade da obra não foi realizada.
Vinte anos!
Porto Alegre também anda tendo uns pecadilhos aí, que acho que nós, que defendemos o Governo Fortunati, precisamos ter um esclarecimento mais convincente, porque não consigo mais explicar porque tanta obra está parada aqui na cidade de Porto Alegre.
Alguma coisa está errada, e os erros a gente tem que admitir e procurar corrigir.
Mas o que eu não posso é, aceitar como natural essa circunstância: promete tudo o que bem entende na véspera da eleição e depois não faz nada, fica tudo por isso mesmo.
E aí eu fico desautorizado a cobrar das pessoas que não vão votar, esse procedimento.
Eles dizem que não adianta votar porque os políticos não cumprem – essa é a expressão que mais ouço daqueles que anulam voto – o que prometem.
Então, quero dizer a todos que o desespero que toma conta hoje de grande parcela da população, irresignada, inconformada com a decisão das urnas, que nos foi desfavorável, só pode levar para uma posição, e eu quero convocar aqueles que estão irresignados como eu a, democraticamente, assumir a posição da resistência.
Não pode ser oposição só na véspera da eleição, nós temos que ter posição durante todo o período, a partir do primeiro momento.
Aliás, a Câmara dos Deputados já fez uma manifestação, muito bem tomada, repudiando, a tentativa de tornar esse País numa Venezuela, numa Bolívia ou coisa semelhante, evitando, dessa forma, uma das hipóteses: não queremos que nem a esquerda, nem a direita atrapalhe o processo de sedimentação da democracia, que pode ter falhas - eu acho que as têm -, mas dessa forma pode-se eliminar suas características positivas.
É por isso, que eu quero da tribuna, lamentar que o PT não esteja aqui.
O PT trouxe uma manifestação contrária às pessoas que foram reclamar, que querem auditoria das urnas, posição com a qual eu não concordo, acho que essa urna tem que ser auditada, mas não nessa eleição que já foi, mas para a próxima eleição que virá.
Porque, senão, é querer ressuscitar o defunto, não, não é. Perdemos a eleição, temos que respeitar a vontade das urnas.
Quem participou, tem que respeitar; agora, aqueles que não participaram, não tem nem o direito de reclamar, os omissos.
Tem muita gente que hoje está brava, e, no dia da eleição, não estava aí, tinha ido passear.
Eu estou irresignado, e, por estar irresignado, quero dizer que o meu partido haverá de ser um partido de oposição responsável, transparente e sincera.
Se não o for, não será mais o meu partido.
Acho que as urnas definem muito bem: quem governa é responsável pelo Governo; quem não governa, quem foi repelido pelas urnas, tem que tomar, concretamente, a postura de oposição.
O fato de que nós resignadamente estamos aceitando o resultado das urnas não nos impede, pelo contrário, nos autoriza a cobrar, e cobrar fortemente, aos gestos políticos que ocorreram durante o período pré-eleitoral, o trabalho de enganação da população brasileira desenvolvido de Sul à Norte. Não dá para culpar os nordestinos exclusivamente não, tem muito nordestino que resistiu e resistiu bem.
A coisa aconteceu em Minas Gerais, medo de perder o Bolsa Família tem em todo este Brasil, não é só no Nordeste, é que no Nordeste tem maior quantidade, por dificuldades que o povo nordestino tem vivido.
Vamos pedir uma auditoria na urna eletrônica para ver se ela é realmente útil, correta, transparente e consequente para a próxima eleição; para a que ocorreu é chorar o leite derramado.
Paralelamente, vamos ter que ir ao aprofundamento da análise das consequências do grande escândalo, o maior escândalo da história político-econômica deste País que é o escândalo da Petrobrás.
Maior que o Mensalão!
Muito maior!
Cada um que pega a delação premiada e entrega mais fatos.
Soube até que o doleiro teve um certo piripaque, quase que coincidentemente com o momento em que ele ia identificar o nome dos proprietários das contas que recebiam as propinas: os intermediários.
E aí, é de matar qualquer doleiro, aí não pode deixar falar.
Se deixar, cai a casa.
Eu não quero que a casa caia por impeachment ou qualquer outra situação.
Estou resignado, vou sofrer quatro anos.
E daqui a quatro anos, eu retomo a luta na maior intensidade possível para fazer com que este período absolutamente nefasto da vida político-econômico-social do País termine.
Chega de mentir para o povo!
Esse povo é crédulo, deu mais uma oportunidade àqueles que compõem o Governo da Presidente Dilma, que não é só o PT: é o PT e seus cúmplices.
É raro o partido brasileiro que não tenha algum grau de cumplicidade.
Mas todos têm que ser cobrados agora, com dureza, com firmeza.
Vamos pagar perante a opinião pública a promessa feita e a realização da mais profunda auditoria que o Janta propôs: na Petrobras, na Eletrobrás, nos bancos – sim, nos bancos, por que não? –, especialmente nos bancos que financiam obras das grandes empreiteiras fora do País, onde é mais fácil fazer movimentação dos recursos e a devolução para as fontes que terão de ser ressarcidas. O remédio é a resistência democrática, acreditando que as instituições podem ser, em determinados momentos, responsáveis por uma mentira democrática, que foi essa que 78% da população manteve esse quadro negativo.
Omissão de uns; falta de competência de outros; a luta continua!
Resistência democrática é a minha receita!

Não quero golpe, vou para a oposição, onde tenho estado ultimamente e irei com a firmeza de quem quer um Brasil socialmente justo, economicamente livre, politicamente desenvolvido e culturalmente administrado no sentido do bem-estar social de toda essa boa gente: do Nordeste, do Sul, do Sudeste, do Centro-Oeste, do Norte, do Brasil brasileiro.

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